25/9/2018
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Desde que foi aprovada pelo Conselho Nacional de Educação e homologada pelo Ministério da Educação em dezembro de 2017, a Base Nacional Curricular Comum (BNCC) tem sido alvo constante dos educadores e profissionais da educação que mostram-se preocupados com o ensino voltado apenas para a formação de profissionais para o mercado de trabalho. Apenas para contextualizar, vale lembrar que a BNCC é a principal norma educacional do país no que diz respeito à definição das áreas do conhecimento integrantes dos currículos e propostas pedagógicas das escolas públicas e particulares de Educação Infantil e Fundamental. O documento também estabelece os conhecimentos, competências e habilidades de cada disciplina escolar, discriminando as competências gerais que são consideradas imprescindíveis ao tratamento didático proposta para a Educação Infantil e Fundamental. Entre tantas polêmicas, o aspecto mais severamente criticado pelos defensores de uma educação mais abrangente e humanizada é o fato da BNCC estabelecer uma visão fragmentada do desenvolvimento humano e dos processos de formação do conhecimento dos indivíduos, propondo a exclusão de um grande número de disciplinas que, no entender dos críticos, são fundamentais para a formação da consciência crítica de cada aluno.
Para suscitar a reflexão do tema em acadêmicos e docentes, na última sexta-feira (21), a coordenação do curso de Pedagogia realizou uma palestra com a Pedagoga Sueli Comar, professora da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) e estudiosa da BNCC, que manifestou seu descontentamento com as diretrizes estabelecidas pelo documento. Para Sueli, apenas preparar os futuros cidadãos para o mercado de trabalho não é o suficiente para se alcançar, em médio prazo, as mudanças e avanços que a sociedade tanto precisa. “Precisamos ir na contramão da BNCC, justamente por que ela, ao priorizar apenas português e matemática, vai dizimar o valor de todas as áreas do ensino, algo inaceitável para nós, que entendemos que o processo humanizador se dá pela articulação de todas as áreas, da filosofia à matemática, passando, é claro, por todos os outros campos do conhecimento”, ressaltou. Em sua fala, muito bem recebida pelos presentes, Sueli destacou que, se persistir no atual formato, priorizando apenas habilidades e competências, a BNCC formará apenas para o mercado de trabalho.
A opinião da palestrante é compartilhada pela coordenadora do curso de Pedagogia, professora Tânia Bertelli, que classificou as reflexões propostas pela palestrante como “excelentes”. “Acredito que para o curso de Pedagogia, a fala da Sueli propôs uma reflexão profunda e necessária sobre a humanização, algo que tanto pregamos na Pedagogia, no sentido de que a educação só é possível a partir de uma estratégia que traga para a sala de aula a cultura, o conhecimento científico e todas as demais áreas”, ressaltou Tânia, lembrando que não há outro caminho para mudar a condição social de alguém, que não seja o conhecimento. “A transformação da sociedade passa pela pessoa estar preparada para o mercado de trabalho, mas não é só isso. Nesse aspecto, a Sueli foi muito feliz ao deixar claro que a produção do conhecimento só se dá a partir da interdependência de muitas áreas”, concluiu. Para os acadêmicos presentes, a reflexão proposta serviu para se “rever conceitos”, como afirmou a acadêmica Gilca Nogueira, do 8º período de Pedagogia, que também vê como retrocesso a proposta de se focar o ensino apenas em questões técnicas. “Precisamos com que nossos alunos tenham na educação um elemento de transformação, que os tornem mais humanizados, e não apenas preocupados com si mesmo”.
Embora as críticas quase que generalizadas ao documento, o Ministério da Educação pretende com que os currículos das escolas públicas e privadas já estejam adequados às normas da BNCC a partir do início de 2020.